domingo, 5 de junho de 2011

Um exemplo para todos.

Diretora-geral Sueli Gaspar recebe medalha de ‘O DIA’ por ter transformado o Ciep 1º de Maio, em Santa Cruz, na melhor escola do primeiro segmento entre 971 unidades da rede municipal


POR MARIA LUISA BARROS em ODia on line de 05/06/2011.

Rio - Durante toda a infância, a professora Sueli Pontes Gaspar, 51 anos, foi educada pela mãe, lavadeira, na base de provérbios. Um deles, porém, se recusou a obedecer: “Pau que nasce torto morre torto”. “Costumava brincar com minha mãe dizendo que sempre era possível mudar, nem que fosse preciso colocar uma estaca para endireitar”, ensina. Ela estava certa.

Dona de um carisma contagiante e com uma dedicação extrema ao ensino público, a ex-merendeira chegou a diretora-geral e transformou o Ciep 1º de Maio, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, na melhor escola do primeiro segmento (1º ao 5º ano do Ensino Fundamental) entre 971 unidades da rede municipal.

Uma história de superação que lhe valeu a primeira das medalhas ‘Orgulho do Rio’, que serão entregues por O DIA todo domingo aos profissionais que mais contribuíram para um Rio melhor no ano em que o jornal completa 60 anos. “Quando me tornei professora, minha mãe sempre quis me dar um anel de formatura. Mas não teve condições. Hoje ganhei uma medalha que me enche de orgulho. Tenho certeza de que onde ela estiver, estará feliz por mim”, emociona-se.

O pai, guarda noturno e compositor nas horas vagas, sonhava que a filha fosse maestrina. “Não segui a profissão como ele queria. Mas de certa forma, hoje eu vivo regendo a vida dos meus alunos. Meus pais sempre apostaram muito em mim. Por isso, acredito tanto nos meus alunos e eles retribuem”, explica ela. Pais e professores que a ajudaram a transformar a comunidade garantem que o mérito é todo dela. “A Sueli conseguiu resgatar valores que foram se perdendo”, diz a coordenadora pedagógica Sandra de Souza.

Estímulo à participação de pais, simulados e reforço de aprendizado

A semente que agora dá frutos foi plantada por Sueli há cinco anos, quando ela assumiu a direção da escola da Zona Oeste. No primeiro dia, a diretora se deparou com portões escancarados, banheiros depredados e portas e vidros quebrados. A escola já tinha sido furtada 23 vezes. Haviam levado tudo: computadores, aparelhos de televisão, vídeos, até fiação elétrica.

Movida por desafios, ela decidiu arregaçar as mangas e abrir as portas para as famílias das comunidades de Rola e Antares, regiões dominadas pelo tráfico de drogas. Com o comprometimento dos professores, implantou ideias simples, como simulados semanais, que estão fazendo a diferença na melhoria do ensino público carioca. Receita de sucesso da antiga merendeira, temperada com amor. “Temos que mudar para melhor a vida das pessoas”, ensina ela.

Lição aprendida por pais antes ausentes que se tornaram os maiores parceiros. “A Sueli sempre foi muito exigente. Queria que chegasse no horário, não faltasse à reunião de pais e trouxesse as crianças limpinhas e arrumadinhas”, conta Soraia Fernandes Silva, de 33 anos, que acabou se tornando uma das mais atuantes entre as mães voluntárias.

Na escola de Santa Cruz, Sueli estimula as turmas a participar do programa Vapt-Vupt. Na sexta-feira, todos os estudantes levam livros para casa e os trazem de volta na segunda-feira, junto com diário onde escrevem sobre o que leram. A escola criou projeto de reforço S.O.S, para os que têm dificuldades na aprendizagem: quem aprende a ler e a escrever recebe “alta”.

No último IDE-Rio, o índice criado pela prefeitura para medir aprendizado em português e matemática, evasão e repetência, o colégio saltou de 4,7 (2009) para 8,1 (2010), numa escala de zero a 10. A média da rede hoje é 4,6.

Sueli dedicou a conquista aos professores, alunos e sua família. “Minha mãe não era letrada, mas me transmitiu valores. Ela dizia: ‘você tem muita responsabilidade neste mundo. Não vai deixar a peteca cair’. Parecia que ela sabia o que o destino reservara para mim”.

Fonte: jornal O Dia on line de 05/06/2011.

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